domingo, 16 de outubro de 2011

30 livros em um mês - dia 12

E chegamos ao livro de ficção científica.
Well (s).
Esse tá longe de ser meu tema predileto. Pra dizer o mínimo. 
Não gosto de falar de bichos, mas acho que gosto menos ainda de falar de tecnologia. Tecnologia: pra usar, não pra falar a respeito. Pelo menos no meu mundo.
Mas, bem, livros de ficção científica não são necessariamente sobre tecnologia, não é. Tão aí o Orwell, o próprio H.G.Wells, o Philip K. Dick, o Aldous Huxley e tantos outros que não me deixam mentir. Muitas vezes, livros de ficção científica são sobre gente. E disso eu gosto de falar. Embora não sob esse enfoque: mas aprendi muito lendo os citados acima. 
O livro que eu queria comentar aqui, no entanto, é de outro autor - é o "Nove amanhãs" do Asimov. Um livro que uma pessoa querida me recomendou: eu nunca o teria tirado da estante por conta própria. Mas ficou. "Nove amanhãs" se divide em nove episódios independentes, que falam de futuros cada vez mais distantes.  E eu queria comentar um deles em particular: e como, nas minhas regras para este jogo, eu não consulto os livros -  a estante é a da memória, não a da parede -, nem sei qual deles é. E este eu nunca mais li, nem era meu; nunca mais encontrei com ele. O que quer dizer que as imprecisões da história são esperadas. Não importa: vamos a ela e ao que dela em mim ficou.
A história é a seguinte: um jovem acorda, um dia, num beliche em lugar desconhecido. Acorda e lembra vagamente, talvez, de ter sido levado pra lá. É uma fazenda, um lugar isolado, onde há outros iguais a ele. No começo acha tudo estranho, e tenta imaginar o motivo daquilo: quem sabe, por ser rebelde, por não se deixar enquadrar tão facilmente, teria sido punido, e ali seja um tipo de colônia correcional. Um lugar para gente que não está adaptada, que precisa ser domada. Essa sensação fica mais forte ainda quando percebe que é obrigado a cumprir uma rotina de estudos, e que ali não há, como seria de se esperar, os computadores que informam tudo e ajudam a organizar a vida cotidiana: ali, o método de aprendizagem é aquele antigo, de que só tinha ouvido falar - usando livros, imaginem. Livros, aqueles objetos que ele acreditava estarem extintos por obsolescência: pra que alguém precisaria de livros, se os computadores já continham em si todas as respostas a todas as perguntas?  
A história segue assim, meio em ritmo de suspense, até que, bem lá no final, seu interlocutor principal esclarece o mistério: não, aquilo não é uma punição. Ao contrário, é uma mostra de reconhecimento da sua inteligência, da sua originalidade. Da sua capacidade de criar caminhos próprios, fora dos previamente traçados. E para que é que eles estão ali, pergunta o rapaz. E a resposta: "você já pensou que alguém tem que alimentar os computadores?"....


Quando li esta história, há tanto tanto tempo, a gente nem imaginava os computadores espalhados no mundo como estão hoje. A gente nem sabia que eu estaria escrevendo num computador, e menos ainda que quando eu acabasse de escrever daria um clique e... pronto.
Porque teve os computadores pessoais, é certo, e mudaram muitas coisas; mas depois teve a net. E a vida nunca mais foi igual. Na época em que o Asimov escreveu, nada disso existia, nem no mais maluco sonho de alguém. Então os computadores dessa história eram máquinas de armazenar dados: não eram usados para comunicação. Sobretudo não para a comunicação em rede: o que ainda é algo diverso.  E isso me lembra uma atração da Disney (o Felipe tá lá, é por isso que esse tema tá recorrente): "Futuros que não aconteceram"- Brasília também me lembra isso, aliás.
Mas o ponto que me toca aqui é a afirmação de Asimov, esta sim atualíssima e cada vez mais, da importância do "fator humano". Da importância do homem por trás da máquina. Não importam os computadores, não importa a rede. Importam os homens que constroem e destroem a tecnologia. O saber dos computadores não é dos computadores: é das pessoas. Que inventam, criam, traçam caminhos, desviam-se, movidas por paixões, por interesses, criando novos caminhos, novos rumos, novos futuros. A tecnologia não é sozinha. A tecnologia vem depois.
Isso o Asimov sabia, e eu nunca mais esqueci.
Só fui ler Marx bem depois. 
Mas quem sabe teve a ver.

4 comentários:

  1. Só uma coisa: você acabou de aumentar minha lista de necessidades básicas.

    ResponderExcluir
  2. Foi? Não era intenção, juro... do que você ficou precisando depois de ler isso? Do livro? Ou de mais livros? =) Ou do Capital?

    ResponderExcluir
  3. O capital eu já li (mal e porcamente, mas já). Deste livro do Asimov. Na minha mão, no meu olho.

    ResponderExcluir

Comente à vontade. Mas, caso você opte por comentar como "Anônimo", assine de alguma forma, por favor. Fica mais fácil responder.